Minha mente ficou líquida na UTI, mas tomei as imunoglobulinas!

Estou cansado de um processo que foi bom para mim e tortuoso ao mesmo tempo. Para ajudar a recuperar da PTI foi indicado eu tomar imunoglobulina. Esse remédio é um anticorpo e vai agir como um reset do meu sistema para ele reaprender a não destruir as plaquetas.

Pois bem! Foram 16 frascos em um dia e 16 em outro. E devido às possibilidades de reação, coisa normal de todo remédio, o procedimento tinha de ser na UTI – Unidade de Terapia Intensiva. E de fato é intenso.

A experiência foi louca. Bagulho doido! Estar em uma UTI com a mente boa não é para os fracos. E agora sei que sou forte. Caralho, e como sou! Gente, o ambiente é hospício da saúde. Acho que esse é o termo. Não sei se saberia trabalhar naquele lugar.

Talvez até por isso todos parecem um pouco ou muito descompensados. Primeiro o paciente não pode nada. Regras. Somente para gente. Estou com raiva da assistente social que proibiu tudo e sumiu hoje quando precisava.

Celular contamina, dizem. Todas as técnicas usam o tempo todo. Sabão em barra não pode. Papel com telefone dos parentes não pode. O som é só o do ronco de pacientes entubados, os casos da enfermagem, leituras médicas, e histórias de vida de cada técnica. Além das fofocas, reclamações e gargalhadas altíssimas. O barulho esquisito do sugador de muco.

Poderia fazer só um texto para descrever isso. Surtei lá. E depois fiquei bem. Surtei fora de lá também. Local não é normal. E agora estou pegando minha mente líquida e recuperando ela. Escrever me ajuda.

Porém, diante de tudo e com correria predominante, elas em ritmo frenético colocavam a programação das ampolas de remédios. Sobe ampola e calcula e programa e vigia. Deu certo. No primeiro dia fizeram até cestinho na ampola de vidro com esparadrapo para pendurar no porta soro. Acho que é isso que chama. Aí ontem uma enfermeira, que deve ser letrada em japonês viu que o rótulo se transforma em uma alça para ser pendurada. Sim, o remédio é japonês e vem em japonês. Um transforme.

Foram vários gatilhos lá. Sem internet pensei em tudo na vida. Por que eu fui ter essa PTI? Porra, logo eu. Ainda não obtive respostas. Um dia terei. Pensei em mudar de área. Dormi e sonhei que era médico e mandava todo mundo calar a boca kkkkkkkkkk! Sonhei que tava entubado. Acordei com dois querendo conhecer Deus. Tenso.

Deu medo. Aí vieram com um trem de tampar minha vista dos procedimentos. Mas os barulhos dos tubos sugando os líquidos e as falas de entuba, remédio x, y, z ficam na mente. Não sei o sentimento que tenho agora. Na hora era medo, espanto e loucura.

É um lugar que não quero voltar. Não mesmo. E recomendo ninguém ir. Escrevi textos mentais que nem me lembro mais. Se eu lembrar eu escrevo algum. Mas eram devaneios. É de se pensar em deixar um paciente com a mente boa lá sem recursos de distração. Um livro seria massa. E se as técnicas podem celular a gente também poderia. Ir ao banheiro eu tive de brigar.

Mijar no tal do marreco e colocar ele na mesa que os remédios são colocados. Estranho. Não deve contaminar. Ok!

Desculpe a confusão mental, mas hoje sou só o pó da rabiola. Amanhã é novo dia.

Estou bem! Esperançoso com a imunoglobulina e confiante que a luta vai ser vencida. Agora, espero mesmo que a metodologia UTI seja mais silenciosa um dia.

Por Marquione Ban.

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